DEFINIÇÃO DA TROVA
A Trova é uma composição poética, ou seja, uma poesia que deve obedecer as seguintes características:
1- Ser uma quadra. Ter quatro versos. Em poesia cada linha é denominada verso.
2- Cada verso deve ter sete sílabas poéticas. Cada verso deve ser setessilábico. As sílabas são contadas pelo som.
3- Ter sentido completo e independente. O autor da Trova deve colocar nos quatro versos toda a sua idéia. A Trova difere dos versos da Literatura de Cordel, onde em quadra ou sextilhas, o autor conta uma história que no final soma mais de cem versos ou seja, linhas. A Trova possui apenas 4 versos, ou seja, 4 linhas.
4- Ter rima. A rima poderá ser do primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto, no esquema ABAB, ou ainda, somente do segundo com o quarto, no esquema ABCB. Existem Trovas também nos esquemas de rimas ABBA e AABB.
Segundo o escritor Jorge Amado:
"Não pode haver criação literária mais popular e que mais fale diretamente ao coração do povo do que a Trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e por isto mesmo a Trova e o Trovador são imortais"
Todo Trovador é poeta mas nem todo poeta é trovador. Nem todos poetas sabem metrificar, fazer o verso medido.
Poeta para ser Poeta precisa saber metrificação, saber contar o verso. Se não souber o que é escansão , ou seja, medir o verso, não é Poeta.
Eis alguns exemplos de Trovas:
Nesta casa tão singela
Onde mora um Trovador
É a mulher que manda nela
Porém nos dois manda o amor.
Clério José Borges
Ficou pronta a criação
Sem um defeito sequer,
E atingiu a perfeição
Quando Deus fez a mulher.
Eva Reis
Um pouco sobre a métrica
Métrica é a arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos. A métrica é obtida pela contagem das sílabas e o ritmo pelas cesuras. Você sabe metrificar e ritmar ?
Uma regra
A última sílaba que se conta é a tônica da última palavra. Ex.- 7 Sílabas:
Eu vi mi-nha mãe re-zan-do
Aos pés da Vir-gem Ma-ri-a
E-ra u-ma San-ta es-cu-tan-do
O que ou-tra San-ta di-zi-a
Outra regra
Quando uma palavra termina por vogal átona e a seguinte começa por vogal ou ditongo, conta-se uma sílaba só. Diz-se que há embebimento de uma sílaba na outra. Ex.:
Ou vin do a fa la ao ven to. São 6 sílabas.
Mais uma regra
Para atender à métrica, hiatos podem transformar-se em ditongos (Sinérese)e ditongos transformar-se em hiatos (Diérese) Ex
Su-a-ve por Sua-ve (3 viram 2)
Sau-da-de por Sa-u-da-de (3 viram 4)
Cesuras
Não esqueça que o que dá ritmo à poesia são as cesuras. São as sílabas tônicas que devem existir obrigatoriamente no interior dos versos, quando tenham mais de sete sílabas.
Nos decassílabos Sáficos - 4ª - 8ª - 10ª - Ex.:
Ia Bar-sa-nul-fo pe-lo ver-de pra-do
Nos decassílabos Heróicos - 6ª - 10ª Ex
Tra-ba-lho nas no-ve-las nun-ca ve-jo
E.T. O verso Alexandrino legítimo tem cesuras na 6ª e 12ª. Se tiver na 4ª, 8ª e 12ª. será um Dodecassílabo Quaternário. Não necessariamente um Alexandrino.
Trovas
A trova é uma composição poética de quatro versos de sete sílabas poéticas, que tem de ter rima no mínimo da 2ª com a 4ª linhas (versos). Preferível será rimar também a 1ª com a 3ª.
Encontra-se em trovas mais antigas rimas da 1ª com a 4ª e da 2ª com a 3ª. Há também 1ª com 2ª e 3ª com 4ª, além de outras. embora o tipo enunciado no primeiro parágrafo seja o mais usado atualmente.
A trova, para ser bem feita, tem de ter um ACHADO. Achado é algo diferente e que faça valer a pena ler a trova. Adelmar Tavares diz
"Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos, somente"
No livro "Como Fazer Trovas e Versos", de Eno Teodoro Wanke, ele faz interessante observação a esse respeito.
Mostra a trova de um autor e a correção por outro trovador, dando-lhe mais qualidade.
Acompanhemos o exemplo:
Trova de João Cândido, publicada no ano de 1894:
O filho do carpinteiro
foi um artista profundo
o que fez esse luzeiro ?
Fez um conserto no mundo.
Raul Pederneiras (1874-1973), lá pelos idos de 1916, depois de tomar bons goles de vinho, saiu-se com esta:
O filho do carpinteiro
foi um artista profundo:
com três cravos e um madeiro
fez a redenção do mundo !
Com apenas 28 sílabas temos a história do Cristianismo, mostrando o que ele significa. Outro exemplo:
Tua boca todos sabem
é tão pequena e singela
que eu não sei como é que cabem
tantos beijos dentro dela.
Na revisão, foi mudada.
Tua boca é tão pequena
tão pequena e tão singela
que não sei como é que cabem
tantos beijos dentro dela.
Rimou apenas a 2ª com a 4ª, mas ficou mais bonita e expressiva.
Nota - Comece a trova sempre com letra maiúscula. A partir do segundo verso use letra minúscula, a menos que a pontuação indique o início de nova frase. Nesse caso, use a maiúscula novamente.
Aprenda a trovar fazendo poesia de qualidade
Trovismo: Movimento cultural em torno da Trova no Brasil, surgido a partir de 1950. A palavra foi criada pelo poeta e político falecido J. G. de Araújo Jorge. O escritor Eno Teodoro Wanke publica em 1978 o livro "O Trovismo", onde conta a história do movimento de 1950 em diante.
Neotrovismo: É a renovação do movimento em torno da Trova no Brasil. Surge em 1980, com a criação por Clério José Borges do Clube dos Trovadores Capixabas. Foram realizados 20 Seminários Nacionais da Trova no Espírito Santo e o Presidente Clério Borges já foi convidado e proferiu palestras no Brasil e no Uruguai. Em 1987 concedeu inclusive entrevista em Rede Nacional, no programa "Sem Censura" da TV Educativa do Rio de Janeiro.
O Trovador Literário é aquele que sabe fazer a Trova, imprimindo espontaneidade, graça, beleza e sabedoria, tal qual a cultivaram poetas brasileiros de renome, como Fernando Pessoa:
O poeta é um fingidor,
finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.
Olavo Bilac:
Mulher de recursos fartos!
Como é que está impenitente,
tendo no corpo dois quartos,
dá pousada a tanta gente?
Menotti Del Picchia:
Saudade, perfume triste
de uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
num crente que já não crê.
Mário de Andrade:
Teu sorriso é um jardineiro,
meu coração é um jardim.
Saudade! Imenso canteiro
que eu trago dentro de mim.
Cecília Meireles:
Os remos batem nas águas:
têm de ferir para andar.
As águas vão consentindo
- esse é o destino do mar.
Carlos Drumond de Andrade:
Solidão, não te mereço,
pois que te consumo em vão.
Sabendo-te, embora, o preço,
calco teu ouro no chão.
Bibliografia:
1. BORGES, Clério José - O Trovismo Capixaba - Editora Codpoe - Rio de Janeiro, 1990. 80 páginas. Ilustrado.
2. Literatura Brasileira - Willian Roberto Cereja e Thereza Analia Cochar Magalhães - Editora Atual. São Paulo - 1995.
3. Gramática Contemporânea da Língua Portuguesa - José de Nicola e Ulisses Infante - Editora Scipione. São Paulo - 1995.
4. Textos e matéria dada em sala de aula para 1° e 2° ano do 2° grau nos anos de 1996 e 1997 pelo professor Ádino, no Colégio WR.
5. Coleção Objetivo - Literatura I e II (Livros 26 e 27) - Prof. Fernando Teixeira de Andrade - Editora Cered. São Paulo.
6. Ana Cristina Silva Gonçalves – Texto na Internet.
7. A TROVA – Eno Theodoro Wanke – Editora Pongetti, 1973 – Rio de Janeiro – 247 páginas.
**Nota: Uma amiga me enviou esse material por email , espero que de alguma forma ajude ,quem assim como eu esta se iniciando nesse mundo, e tentando fazer poesia