sábado, 30 de abril de 2011

Memória do vento






Sempre ressussito nas memórias do vento
Onde via-a te, ave-mulher, assim me perdi
Nesse passeio incosequente, onde eu ardi 
E para não arder, criei versos no tormento
  
Palavras que não são castas meu alimento
Me revivendo assim,  nos versos que urdi
E deles eu desdenho, e também me aturdi
Mas escorrendo no tempo do rompimento


Antes da morte desmemoriada, um alento
Onde busco o sopro, assim na sina comedi  
Tomo a tarefa de sempre te guardar e surdi
Assim livro-me do efémero sem sofrimento


Pois outros irão ver-te serenamente, não eu
Que  pretendo libertar-me onde tu pereceu    




sexta-feira, 29 de abril de 2011

A moldura



Porque te amo, deveria te conter?
E assim aprisioná-la nesse instante
Mas talvez devo mantê-la distante?
Pois o manto do desejo vou deter

Mas floresce a quimera a combater
Petúnias e granizos, algo inebriante
Mas a mim,  tu me parece delirante
Uma outra que amo. Devo cometer?

Mas não te louvo, e sim te entreter
No gesto cruel, o escudo acidulante 
Reverso da serenidade mas adiante
Sem máscaras ou farpas  para obter

A chama que apenas eu recuso a ti
E cria a moldura onde a ode persisti


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Chama secular




Nas quimeras do efémero num relance
Possuidos pelo desejo, nos lábios a lava
Inflamando o sentir , na carne clamava
O recomeço, aquele! Cheio de nuance

E o canto crescia nesse peito e alcance
Sensação poderosa e pura que recriava
O divino em nós poderosa que vicejava
Um caldal de lírios,na agonia do enlace

E soprando nas mentes e não embace
A dimensão vasta e serena que vagava
Nessa cantiga de amor onde sonhava 
Na terra dos amantes assim colmasse

Sem testemunhas ou certezas na mágia
Da chama secular da sibila na carne reagia



domingo, 24 de abril de 2011

Em versos me recriaram




Jamais te machuques
Pela minha ausência
Quando da terra eu for
Sou heresia e clemência
Mas onde agora canto
Outros irão na ardência

Ferir e amar teu coração
Desejar tua carne e fulgor
No manto de quimeras
Sem timedez com vigor
Mas não temas os iguais
E rivivera o teu valor

Na morte um amanhecer
A lança, sangue e maresia
Nessa poeira que fui
Mas sem pranto com magia
E pelo esquecimento
Que virá sem cortesia

De ti e também de outros
Nas lavras que te deram
Encanto, me dão morte
Mas sorri e me cegaram
Rondando meu ego,o punhal
Em versos me recriaram


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Grito de prata



Sorvo-te a boca de laca, no agora
Mas antes que no tempo se desfaça
Respiro teu sopro, e a carne enlassa
Na agonia a cadência que revigora

Na ode conhecendo a forma sedutora
Alimento teu ventre e a fome satisfaça
Lentamente, com essas águas devassas
Tecendo sobre nós sua teia abrasadora

Escorrendo vida de forma arrebatadora
Ordena enlouquecida,mas descompassa
Antes da terra,  a palavra que trespassa
A encantada ilharga, com a avassaldora

Textura do rochedo, um mito púrpura
Grito de prata, que nessas águas depura



segunda-feira, 11 de abril de 2011

Terraço do tempo



Há tanto que dizer agora! Mas os olhos cegaram
Procurando as palavras, onde viajei em renúncias
Redescobrindo a morte, nesse sudário a ardência
Que além das ternuras, as renúcias que abalaram

O tudo que aprendi , o nada que sou, entalharam
Na memória, um sentir rarefeito com indulgência
E deitado na solidão, calado na vitória a inocência
Nas flores das fadas ingênuas que vislumbraram

Na frieza dissolvida em orgulho que ressussitaram
E vagamente em canto, onde sonho que pertencia
Ao vento , ao nume , a voz que se ergue em poesia
Portais e contornos nas formas que vivi, restauram


Nos terraços do tempo onde percebo a aspereza
Janelas do tempo com palavras de impura beleza



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Quimera suave



Com a alma envolta pelo frio mar da ilusão
Um tempo que tomou forma,  mas clamava
De que um gesto foi pó e nada acrescentava 
Rumores ao ouvido chegava com a sensação

Vasto mar e a beleza se foi sem consideração
E cobri-me de escudos mas sempre desejava
A docilidade que um dia me fizera, e sonhava
Com o tempo que me resta a lança e canção

E me perdi em muitos que fui, sem comoção
Sou barro e pedra e a ti guardava e cunhava
Redescoberta da flor e assim sempre calava
Grito insano da minha alma com abnegação

Da memória ilgória que transformada em ave
Pousa sobre o peito como uma quimera suave