quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Noite secreta


Antes que tua carne se desfaça
Provo-te, saliva boca e teu furor
Milagre da vida, sabor e fulgor
Pureza que o desejo despedaça 

Mundo insano que arde e grita
Enquanto tomo-te, sem descanso
Te faço flor, perfume e remanso
Cubro-te de beijos, a carne agita

Na ode do tempo vivo, te cobrindo
Com o desejo que vai consumindo
E colhendo sobre o que me resta

Antes que a carne vá se perdendo
Na chama esse desejo escorrendo 
Tomo-te, nessa noite secreta


jamais devo seguir


O amor na minh'alma morreu, quem diria! 
Esse sentimento que me deixava tonto
Enlouquecido nessa dor, sem encanto  
Cheio de tormentos que a alma contagia 

Junto com ele minh'alma também morria
Nas chagas que no caminho desponta
Desfaz a ilusão que sempre desaponta
Dilacera os sonhos, com tanta agonia. 

Mas sei que os amores devo esquecer
E preciso dores, para o amor perecer 
Espinhos que esse coração deve partir 

E sei que dessa quimera não preciso
Pois caminho solitário, sem calor ou riso
Desse coração, que jamais devo seguir


Versos que eleva


Saber no silêncio cinge 
Quase grava, e perece 
Fabuloso mundo finge
Surdo,tosco, esquece 

Nessa manhã que tarda
Raiz, ilusão e pétala
Peçonha densa, o nada
Integra-nos a ode bela

Outra bem mais densa
Brumas desse encanto 
Verso e universo, pensa
Pulsa antes do canto

No silêncio instável
Promessa dessa alma
Contorno improvável 
Deus que nasce e clama.

Que o não dizer inflama
Boca sem movimento 
Na alma versos e chama
Cria verso no tormento

Ódio-amor, flor e chama
Ode que confronta e grita
Que é nada, o tudo e clama
E quem entende, conquista

Assim envolveu o poeta
Assombrado e ausênte
Versos,  alma inquieta
Nesse canto eloquente

Olhar vago, ausente
Sempre é tempo de dizer
Sem o saber, descontente 
Flor, a dor ou enlouquecer

Prefere possuir o amor
Aquele ocre ou doce  
Que se torna cinza e dor
Na noite entorpece 

Retornando a memória
Nosso tempo e vaidade
Dissipa o verso e a glória
Com fulgor e crueldade

Duplas cores e seu manto
Dessa alma sofrida 
Nesses versos e seu canto 
Da inocência perdida

Por um anjo tocado
Que jamais cantaria
Os versos esquecidos
Na alma libertaria

Ser obscuro que seduz
Essência que confunde
Nesses versos, canto e luz
Louco e belo se funde

Seu sangue, ode e tesouro
Em sua criação transmuta
Ressurge, a sina e ouro
Versos que eleva o poeta. 


Distância evidente


Na distância evidente
Com valor e suavidade.
Cantados docemente
Nessa intensidade

Redescobre o próprio eu
Extensa e multiforme
No centro que se perdeu  
Dentro da ode disforme 

Desse corpo no tempo 
Do dentro, nessa fome
Vai conhecendo o corpo
Sol e ventre, consome

A louca teia tecendo
Sobre nós calor é vida 
Na carne escorrendo   
Da ode enfeitiçada

Sobre nós esses atos
Nessa flor maliciosa
Que é ouro,treva e castos
Na alma saborosa


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Caminhos que chorei


Sonho,sussurro, canto
Encanto e tudo verei
Moinho, pétalas e nave
O vento liberto serei
Um passo, aço e caminho
Na flor que me encantei

E admito é por vaidade
Por não te merecer, orei
Onde maldade não há
Mas sei, há ti perderei
Nesse canto perverso
Na minh'alma acrescentei

Também flores e odores
Solto ao vento que amei
Que é tudo, e nada pra mim 
E na boca fresca pensei
Sorvendo a alma do poeta
Tormento que desejei

Vaidade que vira pó 
Quando clama o que sonhei
Cria o momento lírico
Mas inquieto lamentei
E teu amor foi perdido
Nos caminhos que chorei


  

Esse deus


Esse deus inalterável, surdo
Mantido entre o riso e pranto
Na alma do poeta esquecido
Divino com todo desencanto 
          
Deus que se nota no pranto
Esperando que os versos
Mantenham vivo seu encanto
Sonhos do poeta disperso

Onde se da a  bela criação
E o poeta um deus se torna 
Não falo do deus de oração
Beleza que versos contorna 

Que cria a beleza dessa flor 
Nesse amar de forma plena
Segredo supremo e fulgor
Sem cuidado na ode serena 

Criando essa divina comoção 
Lágrimas do filósofo místico
Deus obscuro na sensação
Mas luminoso, louco e lírico

Se fundem na poetica do ser
O poeta da visão e seu mundo
Nos versos começam a tecer
Um grito belo no mar profundo

Repense as essência


Mesmo esse desamor
Terá seu contratempo
No momento do amor
Nascendo nesse tempo

Sempre nasce morrendo
Nosso tempo desgasta
Nos versos renascendo
O poeta com a pena casta

Grande tempo e espaços
Dos mensageiros raros
Canção, lamentos e versos  
Nos pios de pássaros

No caminho procura
Assim a alma esqueça
Na palavra e loucura
Sem que o verso pereça

Boca móvel da poesia
Outro que é poeta,canta
Sussurra sem heresia
Flor de amor que encanta 

Que ao poeta persegue
Com a rosa escondida
Eterno castigo, segue
Nessa voz não ouvida

Que de junco áspero 
Criação de mais versos
Oco, anônimo, espero
Que ainda nesses passos

Cobalto na vastidão
Que é poeta, tudo,e nada 
Crespo nessa imensidão
Sal na morte calada  

Que vislumbra o obscuro
No verso luminoso 
Fábula enigma puro
Desejo tenebroso

Finge e esculpe os seus
No fabuloso mundo
Integra o poeta e o deus 
Sofrimento profundo

Pressão do encanto e flor
Versos antes do canto
Peçonha desse fulgor
Boca e seu movimento

Na pena e pensamentos 
Ode e perfume da chama
Presença desses mitos
No amor que a alma clama

E o poeta sempre é assim
Nas insanas ausências 
Cria a paisagem com jasmim
Repensa as essencias

domingo, 26 de dezembro de 2010

Nos rastros


Nos rastros do paraiso 
Fissura insinuante
Ode, inquieto sorriso
Boca incandescente

Onde sempre há verso
Dessa alma de poeta
Seu desejo disperso
Em um grito disperta

Que não será ouvido
Dentro de nós, resguarda
Algo puro e perdido
Rubra e estilhaçada

Ao vento te cantará
No desejo que é água
Da conturbada terra
Nessas flores da mágoa 

Quando no tempo canto
Múltiplo, imóvel e pouco
Na ausência do pranto
Inocente  poeta louco


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Lúcida ode


Tua boca sobre a minha
Tomo-te! Instenso furor
Antes que não desfaça
Carne, saliva e suor
Respiro teu sopro, ode
Antes da morte, do amor

Colado em teu corpo
Cravo minha mão,fulgor  
Com cadência e agonia 
Tempo do corpo e calor
Dessa fome de dentro
Coxas, ilharga e suor

Te conhecendo dentro
Lento, descubro tua flor
Alimentando teu ventre
No tempo a nosso dispor
Tecendo nossa teia
Derramando com furor

Nos ciclos escorrendo
Com saboroso calor
Delicadeza púrpura
Entre núpcias e fulgor
Tua prodigiosa prata
No tempo, vida e furor

Entre tua carne e água
Visgo, saliva e sabor
Pétalas que colho em ti
Fecundo a norturna flor
Estendo-me ao lado
Lúcida ode do amor

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Tua flor


Tua carne, boca e calor
Carícias e sedução 
Nesse deleite e furor
Com sorrisos e tentação 

Assim descubro tua flor
Entre a saliva e visgo
Ilharga, coxas e fulgor
Ode, áspide de fogo

Assim sorvo tua boca
Nesse insano queimor
Em tua pele de laca
Trêmula nesse ardor

Nos lagos, corpos suados, 
Teus gemidos e sabor
Na busca, êxtasiados
Caminho enlouquecedor

Descoberta do mito 
Intenso prazer e calor
Que na tua flor sinto
Revelando-nos o amor


sábado, 18 de dezembro de 2010

Meu castigo


Pálido e triste, perdi a vontade de viver
Me sinto vazio, minh'alma parece morta
Sonhos, amor ou dor nada mais importa
Nada restou, nenhum  desejo qualquer

Não tenho sorrisos, ou um olhar sequer .
E calei meu grito e nada mais me conforta 
Hoje sou mármore e nada mais importa 
E nada restou, nem uma flor qualquer

Hoje me tornei aspero com essa frieza
Me tornei arredio, transbordando tristeza
Nesse escuro profundo tento sobreviver 

Condenado a esse ilídio eternamente 
Desse lago pútrido, lúgubre e indecente  
Nos dias que meu maior castigo e viver


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Soneto da noite


Brumas da noite me envolve devagar
Meu mundo indunda nessa amargura
Implorando a benção perdida no luar
Mas minh'alma não é divina nem pura

E mergulha na noite fria a lamentar
Insana dor, do amor frio. Que tortura!
Nesse silencio , ponho-me a soluçar
Noite fria , solitária, dolorosa e escura

Por que és cruel, me deixando tão triste?
Ou será que essa noite só em mim existe?
Uma inquieta saudade, que não contenho

Sentimento esse que sei de onde vem 
Quando tu desperta a lembrança de alguém   
Que jamais terei, pois não sei mais o que tenho   




quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Alma ferida


Subiu alto até se envolver na nevoa fria
Brumas escuras, tempestades e luar
Triste, enlouquecido, começou a clamar
Deuses e poetas mortos que o ouvia

Encantaram-se com sua ode e poesia
Versos e dores do amago do seu sonhar
Derrepente  estavam todos a chorar
Notaram sua triste sina, com tanta irônia

Um poeta louco! Mas que ama também
Se entrega as ilusões, intenso como ninguém,
Mas o amor dele fugiu, e tudo morreu

Calaram-se todos, nessas dores e lamentos
E notaram um choro amargo e seus tomentos
Daquela alma ferida que tocou céu e se perdeu



Ricardo Vichinsky